A característica que define o Cristão é o amor.
A prática do amor para com Deus e para com os irmãos é o manual de vida daqueles que seguem a Jesus Cristo. Contudo, vivemos em tempos de intensa disputa e divisões na sociedade como um todo. É nítida a necessidade de autoafirmação, de sobreposição em relação aos outros que possuem opiniões e posicionamentos distintos, sejam eles políticos, religiosos, ou de outra ordem qualquer.
Famílias divididas, comunidades fraternas rachadas, amizades destruídas. Verifica-se uma notória dificuldade de diálogo em um longo círculo vicioso de ausência de empatia e compaixão entre pessoas, que muitas vezes, há pouco tempo atrás eram amigas e de fácil convivência.
Esta realidade infelizmente tem penetrado no contexto religioso, de modo que Cristãos batizados acreditam ter o direito de deixar de amar alguém por conta de diferenças diversas. Ora, em uma sociedade em que grande parcela se levanta como inimiga da outra, se faz necessário a presença transformadora dos homens e mulheres de Deus para que o amor superabunde onde transborda o pecado. Enquanto o inimigo de Deus divide, o Senhor sempre congrega.
São Paulo alerta a comunidade de Coríntios sobre a necessidade de amar como uma prioridade: “Se eu falasse as línguas dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não tivesse amor, eu nada seria. Se gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até me entregasse como escravo, para me gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria” (1Cor 13, 1-3).
Estas palavras são traduzidas e exemplificadas na vida do próprio Cristo que se faz doação a todos sem distinção. Cristo, a oferenda perfeita de Deus, tem um coração oblato, ou seja, um coração disposto, um coração a serviço dos irmãos. Profundamente íntimo da vontade de Deus, Jesus era capaz de enxergar além das dificuldades e lentidões dos que estavam a sua volta.
Amar e se doar pelos diferentes, pelos de difícil convivência, deve ser a especialidade dos Cristãos. O Senhor revela a Santa Catarina de Sena (O diálogo) que a origem do pecado está na falta de caridade para com Deus e para com o próximo. Deste modo, o cenário atual é propício para a prática do amor, a ponto de unir os diferentes a partir da linguagem universal e inequívoca da caridade: “Irmãos, eu vos exorto, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, a que estejais todos de acordo no que falais e não haja divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos no sentir e no pensar” (1Cor 1, 10).
Vale relembrar que o holocausto, no antigo testamento, consistia em ofertar um sacrifício para expiação dos pecados. Nele a oferenda era totalmente consumida pelo fogo sobre o altar. Contudo, este ritual foi substituído, ainda no antigo testamento, pela oblação. Nela, a oferta é consagrada a Deus, preparada e oferecida aos irmãos como refeição. Jesus quis instituir a sua presença futura em nosso meio desta maneira na noite da Santa Ceia. O pão e o vinho consagrados a Deus são oferecidos como refeição em sua memória. Ele (Jesus Cristo), verdadeira comida e verdadeira bebida se dá a cada um de nós para que não tenhamos mais fome e sede, e assim, seguindo seu exemplo, também possamos nos doar aos irmãos como oferta agradável à Deus.
Promover a “Cultura do Encontro” como propõe Papa Francisco é assumir o compromisso de transformar a realidade conflituosa em uma verdadeira civilização do amor. Ele afirma: “Uma cultura de encontro para toda a humanidade, para que cresça entre homens e mulheres de nosso tempo o desejo de encontrar os outros, de buscar pontos de contato, de construir pontes, de desenvolver projetos que incluam a todos” (Papa Francisco). Portanto, aproveitar o tempo presente para amar é uma obrigação e um direito de todo Cristão. Todas as condições e toda a graça necessária já nos foram dadas para que sejamos agentes desta transformação.
Devemos amar com o amor de Jesus. Um amor que interpela, que constrange e que convida sutilmente para se aproximar e tomar posse desta imensa graça incondicional e grandiosa. Não podemos esperar o amanhã para amar, visto que só temos o hoje (Santa Teresinha do Menino Jesus). Por isso, peçamos ao Senhor um coração igual ao Dele. Oblato, disponível a Deus e aos irmãos, e cheio de desejo de que outros vivam na unidade e no amor do nosso Senhor Jesus Cristo.
Odilon de Castro Lucas
Renovação Carismática Católica de Bueno Brandão
Comunidade Senhor Bom Jesus – Javé Nissi
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